A aprovação de 140 requerimentos na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), da Câmara Federal, que investiga os crimes de corrupção na Petrobras foi considerada uma tentativa de golpe pelo deputado federal baiano Jorge Solla (PT) no dia 11 de junho.
O motivo da reclamação do parlamentar e de outros correligionários é que dentro da remessa aprovada havia um requerimento que convocava o diretor Paulo Okamoto, do Instituto Lula, entidade do ex-presidente da República, para prestar depoimento ao colegiado.
Okamoto deverá explicar a doação de R$ 3 milhões feita pela construtora Camargo Correa ao instituto entre 2011 e 2013.
A aprovação da convocação veio a fazer a primeira vítima agora ao final do mês, quando a bancada do PT na Câmara retirou o deputado federal baiano Afonso Florence da comissão e colocou um recém-chegado à Casa, o petista fluminense Wadih Damous. Inicialmente, a informação era de que a troca foi por conta de uma suposta perda de “gás” do deputado, que vinha defendendo o governo petista de modo ferrenho no colegiado.
Florence, no entanto, contestou a informação e explicou que sua saída se deve às novas delegações recebidas da bancada do PT para liderar no plenário. Ele afirmou que deve assumir a relatoria da Medida Provisória 676, que trata do fator previdenciário. “Meu desempenho sempre foi bem avaliado pelo partido, não perdi gás algum, o que aconteceu é que recebi mais tarefas no plenário”, justificou. O petista disse ainda que o substituto do PT na CPI foi uma indicação sua. “Quando me chamaram para ter mais participação em plenário, indiquei Wadih Damous”, disse.
A mudança foi vista como surpresa pelo pedetista baiano, que é vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Félix Mendonça Júnior. “Para mim foi uma surpresa, porque ele é atuante e aguerrido. Defende os ideais dele com veemência, não que eu concorde com as defesas que ele faz, mas ele faz bem. Às vezes até extrapola um pouco, mas é normal. A CPI perde com a saída dele”, lamentou o pedetista. Felix Júnior também foi direto ao ser questionado sobre o requerimento que convoca o presidente do Instituto Lula. “Só vai atingir o presidente Lula se ele tiver alguma culpa, por que a CPI está sendo isenta”, defendeu o pedetista, em entrevista à Tribuna.
O fato gerador da crise petista ocorreu no dia em que era aberto o 5º Congresso Nacional do PT em Salvador. Apesar de a tropa de choque do partido estar voltada para a Bahia no dia, houve protestos pela forma como os requerimentos foram aprovados no colegiado.
Para o deputado Jorge Solla (PT), os requerimentos foram aprovados “na calada” da suspensão dos trabalhos no plenário. “Foi dado um golpe para aprovar mais de cem requerimentos”, criticou na época ao classificar o ato como absurdo. O próprio deputado Afonso Florence reclamou que não constavam da ata os momentos em que a votação no plenário principal da Casa foi suspensa e depois reiniciada. “É preciso que isso fique registrado”, pediu o petista.
No dia 16, cinco dias depois da aprovação dos polêmicos requerimentos, Solla voltou a usar o microfone da tribuna para reclamar do modo operado na CPI. “Esta Casa precisa primar por cumprir a Constituição, por cumprir a legislação infraconstitucional e assegurar o cumprimento do seu Regimento, sob pena de perder a credibilidade dos nossos pares e também da sociedade. Um instrumento como a CPI é de fundamental importância. Ele não pode perder a credibilidade, não pode ser alvo de golpes, não pode ser alvo de ações que levem à mínima suspeita de que esteja sendo usado de forma seletiva, para prejudicar um partido e blindar outros”, ponderou o ex-secretário de Saúde da Bahia, que lembrou que as regras da Câmara dizem que quando a ordem do dia começa no plenário, todas as comissões devem suspender os trabalhos, o que não teria ocorrido na comissão que apura a corrupção na Petrobras.
“Não foi possível nem ler os requerimentos”, frisou. “Queremos apurar todas as denúncias de corrupção e, sendo comprovado o envolvimento com corrupção, que os envolvidos sejam punidos. Nós não podemos e nem iremos concordar que esta CPI continue tendo como alvo de ataque um partido”, destacou, ao insinuar que existe tentativa de atingir o PT.
Fonte: Tribuna da Bahia