Amplamente demandada nas manifestações dos últimos dois anos, a reforma política que acaba de ser votada em primeiro turno pela Câmara dos Deputados criou um raro momento de concordância entre movimentos de esquerda e de direita – ambos reprovaram o trabalho dos parlamentares.
A medida considerada mais positiva pelos dois lados foi a aprovação do fim da reeleição – que para começar a valer ainda precisa passar mais uma vez na Câmara e duas no Senado. Apesar de aprovarem essa mudança, os quatro grupos ouvidos pela BBC Brasil avaliaram que os deputados não promoveram alterações relevantes no sistema político brasileiro.
As concordâncias, porém, cessam quando se discute o que deveria ser prioridade em uma reforma política.
Para o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e a Coalizão pela Reforma Política Democrática (grupos que reúnem diversas entidades de esquerda), o ponto essencial teria de ser o fim das doações de empresas para partidos e candidatos, o que, na sua avaliação, dá poder desproporcional ao dinheiro no resultado das eleições.
Já o Vem para Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL) – dois dos principais grupos que lideraram os protestos antigoverno deste ano – são favoráveis a esse tipo de financiamento. Na sua opinião, é importante que a reforma política crie novos mecanismos para troca de governantes em caso de insatisfação popular.
"O Congresso continua fazendo alterações superficiais do sistema eleitoral que não mudam em nada a estrutura do sistema político. Não podemos falar que é uma reforma política", afirma Luciano Santos, diretor do MCCE.
"Eu acho que até agora muito pouco passou. A única coisa mais concreta que foi aprovada foi o fim da reeleição, o que mostra que o Congresso não está desejoso de mudar muito nosso sistema político e eleitoral", diz Rogério Chequer, liderança do Vem para Rua.